Qualificação do Principal Problema a ser Abordado e potencialidades

Santa Catarina é um dos estados com uma das maiores áreas de florestas plantadas do Brasil, destacando-se na região serrana o pinus. O motivo é a grande demanda existente (móveis, compensados, celulose, etc) e a existência de uma cadeia de produção bem definida – viveiros, técnica de plantio, corte, madeireiras, beneficiamento, consumidor. O pinus vemsendo cultivado em florestas plantadas, visando a produção de madeira para usos diversos, além da transformação em pasta de celulose para a produção de papel.

O plantio de bambu, ainda incipiente em Santa Catarina, pode igualmente representar uma alternativa de produção de material lenhoso para fins específicos de utilização inclusive sob o ponto de vista ambiental. As vantagens do bambu são inúmeras: vegetal de rápido crescimento e de ciclo curto (2 a 6 anos), planta perene (permite colheitas sem replantio), pouco exigente quanto ao solo, auxilia no combate à erosão, fertiliza o solo, serve de quebra vento, além de oferecer diversificadas opções de uso (mais de 2000 usos). Por se tratar de uma cultura ainda pouco desenvolvida no Brasil, com grande carência de pesquisas, tanto no campo da agronomia, quanto no aproveitamento industrial, ainda não foi possível implantar uma cadeia produtiva adequada. Para se atingir um estágio de desenvolvimento, seria necessário melhorar a qualidade das varas de bambu no que diz respeito à sua resistência contra insetos e fungos xilófagos, à redução da heterogeneidade das peças e à maior facilidade de ligação de peças rígidas e estáveis. Com estas questões equacionadas para cada tipo de aplicação, seria mais fácil elaborar produtos de bambu economicamente viáveis e despertar o interesse das empresas na compra desta matéria-prima, representando o primeiro passo para uma linha produtiva.

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desde 1983, uma equipe de professores/pesquisadores vinculados ao Laboratório de experimentação em estruturas do Departamento de Engenharia Civil, ao Grupo de Habitação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e ao Laboratório de Anatomia Vegetal do Departamento de Botânica, vem atuando no estudo e investigação do emprego de materiais de origem vegetal. Essa equipe compõe o GIEM (Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira) e está voltada para a pesquisa em espécies plantadas, conseqüentemente os pinus e eucalipto, no desenvolvimento das tecnologias MLC (Madeira Laminada Colada), OSB (tiras orientadas de madeira) e compósitos de madeira reforçada com fibras de vidro e fibras naturais. Com esta experiência e equipamentos que possibilitam a elaboração de compósitos de madeira com outras fibras, o professor Dr. Eng. Carlos A. Szücs, do Departamento de Engenharia Civil e coordenador do GIEM, tem estudado a possibilidade de utilizar bambu para melhorar as características de resistência, com possibilidade de diminuir a espessura das chapas finais.

O pioneirismo de organizar uma instituição que fizesse o intercâmbio de
pesquisadores, empresas e interessados em bambu em Santa Catarina deve-se à Associação Catarinense do Bambu, ou BAMBUSC, atualmente presidida pelo Eng. Marcos Marques. Constituída em 02 de maio de 2005, possui status de pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e duração por tempo indeterminado, com sede e foro no município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina. A associação conta com um grande quadro de profissionais (Arquitetos, Quimicos, Engenheiros, Agronomos) e detém know-how e articulações indispensáveis para trabalhos envolvendo Bambu.

Através do contato entre a UFSC com a BAMBUSC e a proposta de parceria num projeto de âmbito nacional, surge o nome da empresa ORÉ BRASIL para se integrar na equipe. Fundada em 2006, a Oré Brasil é o resultado da união de interesses e objetivos comuns entre o tradicional empresário do ramo moveleiro – Reinaldo Baechetold e o Arquiteto e Designer – Paulo Foggiato. Seus produtos, móveis e revestimentos, são todos à base de bambu multilaminado colado. As espécies utilizadas pela empresa são: Dendrocalamus giganteus, Phyllostachys pubescens – o primeiro, originário da Tailândia, de clima tropical, chega a 60 metros de altura e grande diâmetro, já o segundo, também conhecido como “mosô”, possui uma altura de até 20 metros, muito bem adaptável ao frio e muito flexível. Estas duas espécies são tidas como das 20 espécies comercialmente viáveis, segundo o INBAR (Rede Internacional de Bambu e Ratan).

É de extrema importância para uma futura política de plantio conhecer-se as melhores espécies a serem utilizadas. O fator relevante para o cultivo do bambu está relacionado basicamente com o clima – existem espécies que não se desenvolvem muito bem em climas frios, outras preferem climas quentes. Em Santa Catarina podemos dividir o estado em locais com ocorrência de geada (região serrana e oeste do estado) e sem ocorrência (litoral). A empresa Oré Brasil adquire o mosô da região serrana, na cidade de São Bento do Sul, e o D. giganteus da região litorânea norte do estado – assim pode se pensar em material a ser produzido de forma abrangente em todo o território estadual. O somatório de universidade, associação e empresa privada representa uma equipe técnica qualificada, equipamentos para experimentação e interesse no desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu, visando uma consciência ambiental, a qualidade dos produtos e a busca pela eficiência econômica. Está sendo dado o primeiro passo no estado rumo à conscientização, normalização e integração a nível nacional.